
Eu não aprendo mesmo...não consigo ficar indiferente aos animais em geral, mas sobretudo aos cães em particular.
No sítio onde trabalho, dei conta de um cãozito amarelo com cerca de 1 ano de idade que andava por lá, apesar de ter coleira estava muito magro e fiquei a saber pelos colegas, que ele dormia lá atrás nas garagens e alguns inquilinos punham-lhe comer de vez em quando. Apesar de haver lá um Restaurante ao lado, nunca lhe deram de comer para ele não se habituar, diziam...
O diabito do cão só queria era brincar e mimos, como não me fiz rogada, comecei a dar-lhe festinhas e comprei ração que lhe punha debaixo de uma árvore lá no quintal, mas quando ele não estava lá, para que não me associasse ao comer.
Todos os dias de manhã, mal via o meu carro, vinha a correr até eu parar e quando saía, atirava-se invariavelmente para cima de mim, sujava-me toda e rasgou-me duas blusas e um vestido, obrigando-me a ir todos os dias de calças de ganga, onde o estrago ficava mais disfarçado e ainda por cima, seguia-me para dentro do café sempre aos saltos, até que tive de fechar a porta do café depois de entrar, para o evitar.
Na segunda-feira passada estranhei a sua ausência e perguntei por ele ao dono do restaurante, que me disse tê-lo visto só no sábado.
Fiquei todo o dia com o coração apertado a pensar no bicho, que continuou sem aparecer. No dia seguinte de manhã, continuava sem aparecer e no café um senhor abordou-me pensando que eu era dona do bicho, dado o apego que ele demonstrava, ao que respondi não ser, mas porquê? Ao que me respondeu que o tinha visto um bocado longe dali, numa outra zona industrial e estavam pessoas de volta dele deitado, que parecia ter sido atropelado...
Passei o dia a chorar, com uma vontade louca de lá ir procurá-lo, mas debatendo-me com a falta de condições físicas e monetárias, para tratar de outro animal. Não poderia amarrá-lo a uma corrente e aqui no meio da cidade, não posso deixá-lo solto como deixava a Jota, que não saía daqui, ele tão novinho só pensava em brincar...
Já passou uma semana e não soube mais nada dele, tinha comprado um saco de ração para lhe dar, ainda andei com ele no carro toda a semana, acabei por trazê-lo para a Nika; ainda ando a lamber as feridas, sobretudo as da minha falta de coragem para fazer o que tinha vontade, mas nenhuma acção é inconsequente, só tenho de aprender a lidar com isso...