domingo, 2 de setembro de 2007

Azia

(foto de Carla salgueiro; um dia entardeceremos como as árvores...)

BICABORNATO DE SODA

Súbita, uma angústia...
Ah, que angústia, que náusea do estômago à alma!
Que amigos que tenho tido!
Que vazias de tudo as cidades que tenho percorrido!
Que esterco metafísico os meus propósitos todos!

Uma angústia,
Uma desconsolação da epiderme da alma,
Um deixar cair os braços ao sol-pôr do esforço...
Renego.
Renego tudo.
Renego mais do que tudo.
Renego a gládio e fim todos os Deuses e a negação deles.
Mas o que é que me falta, que o sinto faltar-me no estômago e na
circulação do sangue?
Que atordoamento vazio me esfalfa no cérebro?

Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me?
Não: vou existir. Arre! Vou existir.
E-xis-tir...
E-xis-tir...

Meu Deus! Que budismo me esfria no sangue!
Renunciar de portas todas abertas,
Perante a paisagem todas as paisagens,
Sem esperança, em liberdade,
Sem nexo,
Acidente da inconsequência da superfície das coisas,
Monótono mas dorminhoco,
E que brisas quando as portas e as janelas estão todas abertas!
Que verão agradável dos outros!

Dêem-me de beber, que não tenho sede!

Álvaro de Campos

7 comentários:

Fatyly disse...

Puxa...que amargo de boca:(

Vamos levantar o astral o dia está lindo:)

Beijos sinceros

Lúcia disse...

olá, já cá estou, depois de 24 horas acordada. mas correu tudo bem. depois telefono. beijinhos

peciscas disse...

O melhor é mesmo existir!
As azias, com mais ou menos bicarbonato ou rennie, lá passam!

mfc disse...

Existir é o menos que podemos fazer!

Elipse disse...

existir é bom.
Bem sei que depende dos dias mas não temos termo de copmparação ... e é bom que não tenhamos, não é?

SoNosCredita disse...

só podia ser Álvaro de Campos... adoro! :)

Nilson Barcelli disse...

Escolheste um poema que eu gosto muito. E gostei de reler.
Obrigado pela partilha.
Beijinhos.